Se a escala da cultura chinesa é quase incompreensível aos europeus, a nós, latino americanos é simplesmente inconcebível.

Vejamos a arte chinesa, por exemplo: a sino ópera existe há quase 2000 anos, sendo um espetáculo que mescla canto lírico (os cantores treinam a vida inteira e basicamente para um único papel), malabarismo, orquestra musical, teatro, poesia e prosa.

Algumas das artes que compõem a opera chinesa já eram praticadas nas cortes da China (ainda não unificada) em 1700 A.C, ou seja, simplesmente mais de mil anos antes da democracia surgir em Atenas.

Uma das peças mais ensaiadas na China se refere ao herói WU SONG, e como ocorre na maior parte das fábulas interpretadas, por trás da ficção aparentemente simples, há uma metáfora poderosa e uma lição exemplar a ser assimilada.

Neste libreto chinês (usando um termo Italiano típico das operas europeias para homenagear esta fábula), Wu Song precisa descansar em um albergue por conta da sua longa jornada por estradas longínquas, mas cidadãos locais avisam: a hospedagem é perigosa, pois toda noite um tigre antropofágico aparece e devora alguém.

Sem muitas opções, o herói decide arriscar: se acomoda, deita e tenta dormir. Mas um ruído o desperta e ao saltar em pé, vê pelas luzes das velas bruxuleantes a sombra de um enorme predador felino: era o tigre que lhe avisaram.

Fugir não era uma opção… Wu Song controlou suas emoções e enfrentou o tigre com seus próprios punhos e fazendo uso das artes de combate que conhecia. Com golpes certeiros, venceu e imobilizou a fera.

O tigre é o nosso medo, que se não dominamos há de nos devorar, daí o alerta: toda noite aparece um tigre que acaba devorando seres humanos.

O tigre não pode ser morto, mas apenas controlado, domado, subjugado. Wu Song representa a determinação, o autocontrole, a coragem sem imprudência, a audácia sem vaidade, a valentia sem infantilidade e a harmonia entre razão e emoção.

Ps.: Neste último ano – vivendo em Portugal – tive o prazer de ser aluno em alguns cursos na Escola Sino Lusófona, em convênio com a Universidade de Coimbra. Passei a admirar ainda mais a cultura chinesa.