A China é o segundo maior país do mundo em território, o mais populoso (deixará de ser no máximo até 2030, quando a Índia a ultrapassará), é atualmente a maior potência em biotecnologia, tem a terceira maior forças armadas do mundo, é a nação que tem mais patentes registradas por ano desde 2019, um dos países que tem mais universidades, o que mais investe na África há anos, o maior PIB do mundo em algumas medições (e o segundo em outras), é o que mais faz trocas comerciais com a América do Sul há quase dez anos, tem IDH baixo (mas subindo) , fez a maior transferência de renda da História, a maior remoção da pobreza que já se viu e renda per capta média (e subindo). Ah, e é uma ditadura (com muitos defeitos conhecidos e alguns outros que não existem mas são divulgados como se existissem) embora não seja possível mais a considerar comunista, pois mais de 6/10 do PIB chinês está nas mãos da iniciativa privada.

Os EUA detém o quarto maior território do mundo, o segundo maior PIB em algumas medições (e o primeiro em outras), é o segundo país que mais patentes registra ao ano, detém as melhores universidades do mundo, é uma potência em softwares, redes sociais e tudo que envolve o capitalismo de vigilância, tem a maior indústria de armas do mundo, é uma potência agrícola, nuclear e petrolífera e tem as maiores Forças Armadas do mundo. Em ogivas nucleares só fica atrás da Rússia. Ah, e é a democracia mais antiga do mundo (com alguns defeitos bem conhecidos e outros não tão divulgados).

Taiwan é uma ilha pertencente ao litoral chinês, governada por um grupo dissidente da República Popular da China, quando duas forças políticas disputaram o poder chinês nos anos 40/50. O governo de Taiwan se considera independente e soberano, mas o fato concreto é que praticamente nenhum país reconhece-o. E a tendência é esse reconhecimento cair mais e mais na medida em que a China cresce e investe em mais nações, conseguindo a simpatia, apreço e quando não, a compra dos seus votos na ONU. Pura realpolitk.

Os EUA possuem leis e tratados para com Taiwan que os compele a os defender de uma invasão chinesa, que por seu turno, considera Taiwan inseparável da China, e sua soberania territorial é intocável.

Os chineses têm tratado a questão mais ou menos nos moldes com que lidaram com Hong Kong, ou seja, 01 país, 02 formas de governar e assim o dragão voa.

Mas os EUA parecem interessados em instilar alguma confusão na região.

Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados dos EUA visitou Taiwan (segundo se divulga, contra a vontade do presidente Biden), em um evento que pareceu feito sob medida para afrontar Pequim.

As duas maiores potências econômicas do mundo têm se estranhado e certamente teremos semanas / meses em que rosnaram mais e mais.

Essa tensão pode virar guerra?

Certamente que sim, especialmente se Taiwan tentar uma jogada mais ousada como declarar sua independência.

Mas considero improvável.

Apesar da tradição de invocarem a democracia, liberdade etc, os EUA são o estado mais beligerante do mundo e que contam com uma lista interminável de violações de direitos humanos dentro, mas especialmente, fora de seu país. E a China, embora uma ditadura que claramente viola direitos humanos de chineses e minorias uigures, não tem tradição nenhuma de invasões, intervenções e campanhas militares contra seus vizinhos.

Temos de um lado uma nação com claro ethos guerreiro e histórico intervencionista (EUA) e outra ( China) com histórico comercial e de não interferência nas demais nações.

Há muitos nuances cinzas nessa escalada de tom, e trilhões de dólares em importações de um para o outro, que seriam severamente prejudicados por um conflito aberto.

Ainda assim, tanto Pequim como Washington tem como tentar ferir um ao outro por meio de sanções, e me parece que neste caso, os norte americanos têm a vantagem política (ascensão sobre outras nações) mas os chineses têm vantagem econômica e logística (muitos países endividados e dependentes financeiramente e rede de suprimentos).

Por ora, a atitude parece mais de Pelosi que do governo em si, mas o que explicaria essa atitude?

As eleições parlamentares que se vizinham. Nos EUA, atitudes francamente sinofobicas costumam render popularidade e votos.

A conferir.