Pré-Golpe.

Bolsonaro ao invés de apenas contestar o resultado das urnas após a provável derrota (como fez Trump), planeja algo diferente: tentar impedir a realização das próprias eleições.

Para levar tal plano a cabo, tem semeado fakenews há anos, contando com o radicalismo dos seus seguidores (1/4 a 30% dos eleitores) e com a realidade paralela que criou com o gabinete do ódio e seguidores de gurus paranoicos da Virgínia.

Essa realidade paralela foi esculpida por anos e sempre viveu para além dos limites da realidade fenômenica, sem grandes pontos de intersecção com o mundo real. Como ensinam os estudos sobre Autoritarismos na ciência política, os populistas do séc. XXI trafegam dentro do universo da pós-verdade.
Ontem, Bolsonaro deu um passo inovador na sua trajetória extremista: usou o cargo que tem para criar este ponto de intersecção e conseguiu público institucional
(EMBAIXADORES) para a sua fala recheada de pós -verdade. Nada do que Bolsonaro disse pode sequer ser considerado mentira: seria status demais para tantos absurdos. O que ele disse, como expõe Daniel Innenarity, está além dos limites da verdade x mentira, porque a mentira é dita referenciando a verdade, enquanto as pós -verdades de Bolsonaro vão muito além disso.

Bolsonaro, ontem, trouxe o anúncio do golpe ao Diario Oficial e bancou o seu terraplanismo eleitoral e constitucional. Não surpreende: para quem é Negacionista sanitário, prescreve Cloroquina e Ivermectina, não era de esperar que tivesse uma leitura sã da Constituição.

Dito o que Bolsonaro queria dizer, há que se observar o que os eleitores entenderão: provavelmente, a verdade; que o presidente está morrendo de medo, porque sabe que deve perder as eleições, ser processado sem direito a foro privilegiado já a partir de 02/01/23 e tem enormes chances de ser condenado por uma variedade inédita de crimes cometidos por um presidente na história do país.