Johan Rockstrom e sua equipe tentam explicar nas Conferências do Clima há mais de 15 anos que na natureza sempre há um ponto onde retornar é impossível.

Se você matar alguém, para sempre terá matado alguém. Se roubar alguém, para sempre terá roubado. Se você passar décadas fumando, bebendo e comendo imoderadamente, quando tiver seus 80 anos (se lá chegar), certamente terá colesterol elevado, hipertensão, gordura no fígado e outros processos inflamatórios.

Adiantará largar tais hábitos?

Será menos pior que mantê-los, mas não recuperará o que perdeu se estiver no ponto de não retorno.

O que a pesquisa sobre o clima global está revelando é que já atingimos o ponto de não retorno em certos temas, estamos prestes a atingir em outros e podemos não atingir se agirmos agora em uns poucos.

Quando tais pontos de não retorno serão alcançados?

Difícil estimar com precisão, mas levando em conta que a queda da biodiversidade se mantém aumentando, as emissões de dióxido de Carbono e metano se mantém elevadas, o desmatamento amazônico tem batido recordes, os incêndios na Austrália idem, as enchentes em cidades não tropicais têm se tornado recorrente e os corais oceânicos estão se tornando desertos, é possível afirmar que não temos mais tanto tempo como já tivemos.

Rockstrom recomenda que a humanidade dê um cavalo de pau quanto às emissões ao menos até 2030, adotando desde já novas matrizes energéticas.

O que fazer?

Países pobres conseguiriam sozinhos?

E os países emergentes poderiam competir com as nações ricas?

Como conciliar os interesses de nações rivais como China / EUA / Rússia?

Ao contrário do que nosso preconceito Ocidental sugere, os chineses estão atentos aos danos ao meio ambiente.

Periódicos e jornais chineses que circulam no Brasil, por exemplo, revelam claramente que para além dos receios com a viabilidade da espécie humana no planeta, o governo chinês já faz contas bastante – digamos – utilitaristas, ou seja: qual será o valor econômico que os danos ambientais custarão para tratar a saúde da população chinesa?

A resposta está dada: as externalidades CUSTAM MUITO MAIS que o retorno econômico puro e simples.

A aparente timidez do governo chinês quanto às metas de redução em Glasgow / 21 tem muito mais a ver com estarem se preparando para dar o pulo do gato na adoção das tecnologias limpas e a partir de uma liderança técnica, poderem impor a utilização destas, inclusive as vendendo.

Não faltarão detratores os acusando de guerra comercial, implantação do Comunismo ao redor do mundo, oportunismo etc.

Mas a questão é: o que nós, brasileiros, estamos fazendo para nós não sermos os últimos dos moicanos neste tema?

Demos azar (ou elegemos esse azar, como preferirem) de sermos governados desde 2019 – justamente na fase do ponto de inflexão do clima – por um governo não apenas negacionista ambiental, mas que ele próprio promove aumento de emissões.

Seria como se em meio à criação dos computadores pessoais, o governo federal apostasse contra e decidisse dedicar bilhões em investimentos às máquinas de datilografar.