Guy Debbord alertava já nos anos 60: vivemos a era do espetáculo. Marshal Mcluhan advertia na mesma época: o meio é a mensagem. Com o terrorismo não haveria de ser diferente. Se apropriando de feições da sociedade de mercado, o terror busca hoje “vender” o seu produto, que basicamente é assustar. Haveria melhor forma de fazer isso do que na terra do tio Sam, na cidade que é palco de inúmeros filmes e também o coração do capitalismo? Mas para entender 2001, temos que voltar algumas décadas.

Após tecer bom entendimento com ditaturas militares, os EUA, no final dos anos 70 e começo dos anos 80, assistiu revoluções derrubarem estes regimes “aliados” e a ascensão de um islamismo fundamentalista que em alguns países ganhou contornos nacionalistas.

Este processo fermentou até produzir seu mais mortal e espalhafatoso efeito em 11 de setembro de 2001, uma data que deixou de ser mero marco temporal para representar uma plêiade de fenômenos geopolíticos.

A data marca sem dúvida o estabelecimento de uma nova forma de terror: espetacular, midiática, sob disputa de autoria e sucedida pela implantação de medidas também extremas pelos Estados para tentar controlar a segurança pública em suas fronteiras. Como cidadãos, assimilamos tão profundamente esta nova realidade, que não recordamos mais dos tempos em que frequentar aeroportos não exigia exames variados, desde os nossos passaportes e pertences, até os scanners de nossas intimidades.

Esse é o preço que pagamos pela combinação de dois itens: o terror e a globalização. Queremos o segundo, mas não o segundo. Mas eles são faces da mesma moeda?

Certamente que sim. O terror espetacular e tal como é praticado hoje não teria nascido em eras ostracistas. O terror Contemporâneo demanda plateia, consumidores, políticos com medo de perder eleições e vítimas potenciais. O terror é um dos subprodutos das assimetrias de uma globalização desigual, onde caixas da Amazon circulam com mais liberdade e facilidade que cidadãos, imigrantes e apátridas, e onde Estados Laicos convivem ou exploram Estados falidos ou teocráticos ou ambos.