Descobrir o que move o sapiens é algo com que a filosofia se debruça há milênios. De Confúcio a Aristóteles, de Agostinho a Tomas de Aquino, de Ockham a Bacon, de Descartes a Freud, toneladas de páginas foram escritas sobre o tema.

Mas vamos nos restringir aos dois modelos mais célebres nos últimos 250 anos: Hegel x Marx.

Marx defende que o motor da História é o conflito de classes econômicas, de modo que podemos afirmar que para Marx o ser humano é um homo economicus. De tradição claramente iluminista, este sapiens marxista é muito racional e voltado às questões logísticas da subsistência, podendo não agir assim apenas se estiver vitimado por alienação.

Para Hegel o motor da História é completamente diferente: o desejo de reconhecimento do indivíduo seria o móbil da civilização. Sai a fria razão e entra um emaranhado de emoções, paixões e afetos e algum tipo de senso de justiça inato.

Quem mais recentemente enfrentou o tema foi o pensador Francis Fukuyama que mergulhou no pensamento de Hegel e mesclando-o a Platão, erigiu dentro do desejo de reconhecimento conceitos muito interessantes e que me parecem cada vez mais precisos.

A humanidade seria dividida entre dois tipos de seres humanos: os megalotímicos x os isotímicos. Os últimos desejam tão somente serem reconhecidos como iguais pelos demais seres humanos. São a maioria.

Os megalotímicos são mais problemáticos: desejam ser reconhecidos como acima dos demais. Vez por outra, esse desejo se bem canalizado pode redundar em grandes feitos, conquistas e descobertas, mas é muito fácil que tal sentimento degenere em infelicidade própria e alheia.

O comportamento megalotímico é claramente antissocial porque parte da premissa de que é aceitável um ou mais seres humanos serem tratados como melhores ou superiores aos demais.

A humanidade viveu a maior parte de sua História sob eras tirânicas, sob a batuta de homens e mulheres megalotímicos, mas quando fundiu liberalismo, democracia e humanismo, a megalotimia começou a ser mal vista.

A repulsa de amplos setores da sociedade à polarização e ao radicalismo crescente de alguns grupos revela que a aceitação à megalotimia vem caindo.