A geopolítica, a geografia, a diplomacia, os conflitos demográficos e econômicos, em geral, demandam explicações multidisciplinares, cujas perguntas são simples e as respostas hão de ser complexas.

Mas existem exceções.

A tensão envolvendo Rússia x Ucrânia x Otan é uma delas.

A OTAN é uma entidade militar política que nasceu após a Segunda Guerra e desde então vem em expansão contínua, acelerada pelo colapso da União Soviética.

Hoje, a organização conta com 28 estados membros, e como se nota no mapa acima, a entidade claramente engolfou as fronteiras russas.

Para tentar se blindar, a Rússia exerce influência (ainda) em alguns países ao redor (vide Cazaquistão), mas seu poderio não se compara ao da Otan. Nós, “ocidentais”, ainda fazemos uma ideia exagerada do poder russo, que por sua vez, também joga truco com algumas das impressões erradas da população ocidental.

O PIB russo é similar ao do Brasil (1.4 bi U$), muito menor que o da França (2.5), Alemanha (3.8), Japão (5.0), China (14.0) ou EUA (20.0). Embora seu armamento ainda seja um dos três maiores do mundo, o exército russo é obsoleto em comparação ao americano, chinês ou até das potências da U.E.

O que parece realmente estar em jogo não é exatamente a preocupação americana / europeia com a democracia ucraniana, mas sim, os interesses energéticos europeus (a Rússia fornece cerca de 4/10 da energia consumida na Europa por dutos de gás) e econômicos (americanos). Essa dependência energética europeia enfraquece a UE (e a influência de Washington), e diametralmente por oposição, robustece Moscou.

Mas parte das reclamações de Moscou (a despeito de Putin estar mesmo demolindo a democracia russa há anos) procede: observem no mapa: a Otan cercou a Rússia e tem bases com mísseis que alcançam Moscou ao menos da Polônia, Hungria e Romênia, países que estiveram sob a influência soviética e hoje agem cada vez mais como satélites americanos.

Se a Ucrânia ingressar na Otan, Moscou estaria a dois passos de Washington.

Seria como se a Rússia lograsse instalar mísseis apontados para a Casa Branca em Honduras, México e Canadá.

E aí: vocês acham que Biden concordaria?