Conforme a vacinação avança mundo afora em mais de 50 países e com a Imunização de mais de 15 milhões de pessoas sem sequer meia centena de efeitos adversos graves e com zero óbitos, nosso país segue fora deste processo civilizatório.

Eis que surge a possibilidade de clínicas privadas adquirirem imunizantes indianos para aplicar em pacientes brasileiros que puderem pagar.

A mera possibilidade de ocorrência de vacinação privada gerou um debate interessante.

Afinal, seria ético, moralmente aceitável e útil do ponto de vista sanitário permitir que pessoas com recursos materiais sejam vacinadas fora do Sistema Unificado?

Sob um prisma kantiano mais afeito à igualdade, a hipótese parece repulsiva. Mas e sob a ótica utilitarista?

A existência de uma opção particular, por mais que evidencie e até recrudesça a desigualdade já existente no país, não poderia ser uma forma de utilizar o fato notório de existirem pessoas com mais recursos no país em prol de todos?

Explico: a lógica da imunização é que os vacinados não protegem somente a si mesmos, mas também aos demais, visto que ao não ficarem mais suscetíveis à infecção, deixariam de sobrecarregar o sistema de saúde e dependendo do potencial da vacina, parariam inclusive de transmitir a moléstia.

Sob o prisma utilitário, a Imunização de particulares pode parecer beneficiar só quem puder pagar, mas na prática acabará beneficiando indiretamente todos: vacinados, não vacinados e sistema de saúde.

Em medida impossível de se ignorar, a esfera privada estaria auxiliando o Poder Público ao vacinar grandes contingentes populacionais sem despesas ao Estado.

Por outro há que se ponderar se não seria mais justo então que o Poder Público adquirisse esses imunizantes e definisse quem seriam os vacinados segundo a lógica do Plano Unificado de Imunizaçao.

Em um primeiro momento, diante da desorganização que impera no Ministério da Saúde me parece que seria mais benéfico permitir, mas é fato que tal possibilidade pode intensificar a desagregação social já notória em nosso país.

Alguém poderia argumentar que permitir que alguém pague pela vacina enquanto milhões não podem fazê-lo seria como permitir que náufragos comprassem coletes salva-vidas enquanto pessoas sem recursos seriam abandonadas para se afogar.

Procede?

Não exatamente.

Como exposto, o benefício vacinal se estende para além do vacinado. Um exemplo mais interessante seria propor que alguns passageiros pudessem comprar coletes salva-vidas e outros não, mas cada colete comprado serviria para várias pessoas e assim, menos vítimas morreriam afogadas.

Este é um tema que merece profunda reflexão de cada um de nós.

Liberar ou não?