
Santo Adamastor: Volume 2
4 de julho de 2024
Santo Adamastor - Volume 3
D
epois de provar o sabor amargo do exílio, Adamastor alcança uma nova revelação: é preciso recomeçar. Este terceiro e último volume da saga encerra a santíssima trindade adamastoresca, narrando a perspectiva do santo, e agora também profeta, Adamastor, de reconstruir, com poder muito mais avassalador, a Seita que trazia seu nome. Como uma espécie de Antônio Conselheiro desmiolado, um Moisés abestalhado ou um Cristo entorpecido, Adamastor conduz dezenas, centenas, talvez milhares de pessoas em uma marcha em busca do paraíso.
Em “Santo Adamastor - A ressurreição”, o escritor, pesquisador e cientista social Alexandre Gossn segue usando seu arcabouço de conhecimentos para narrar a jornada do protagonista que, estimulado por sua mãe, assume um papel que desencadeia consequências tragicômicas.
O santo é agora, também, um profeta que trabalha para reconstruir a seita que traz seu nome, conduzindo centenas de pessoas em uma marcha em busca do paraíso. Personagens que encantaram e divertiram leitores nos volumes um e dois reaparecem e persistem: o velho Agenor, o Pombo Herculano e o Padre Olegário. Outros surgem, como Lilith, a fêmea das fêmeas — sagaz, independente, sábia, dona do próprio corpo —, e Dona Claridade, senhora negra, idosa e doente, cuja cegueira é garantia de lucidez. Para completar, novas “velhas” figuras emergem do texto para embalar revelações: Sócrates, Nietzsche e – pasme – John Lennon não escapam de prestar contas ao adamastorismo.
Parte significativa da obra é dedicada à história da macabra Sociedade Secreta das Sentinelas e seus “cauterizadores de pecados”, que tem paralelos óbvios com a história ocidental e nos mostra como “verdades absolutas” podem ser prejudiciais à humanidade. Tudo isso mantendo o ritmo da ficção, o humor e a ironia que são a marca do autor.
Com toques de realismo mágico e influência direta de Ariano Suassuna (“Auto da compadecida”) e Miguel de Cervantes (“Dom Quixote”), Alexandre Gossn é capaz de tecer críticas sobre política e religião, especialmente quanto à interferência de uma sobre a outra, sem deixar de lado uma apetitosa história que nos faz rir e refletir sobre os enganos que confundem e atrasam a evolução da espécie humana. Uma ótima pedida em tempos de redes sociais cada vez mais desprovidas de moderação. O adamastorismo é agora.
Por Valéria Martins
“Gossn encontra o tempo exato entre o riso e a crítica social afiada, deixando o leitor experimentar os lampejos de humanidade numa loucura sagrada.”
Tadeu Rodrigues, podcast Rabiscos
“Em 2020, em pleno começo da pandemia e ainda sem horizontes de vacinas, Alexandre Gossn lançou o pequeno livro Fascismo Pandêmico – Como uma Ideologia de Ódio Viraliza? Um Breve Ensaio Sobre a Alma Fascistoide (Rio de Janeiro, Autografia). O autor destaca que o fascismo (na esteira de Reich) é um fenômeno psíquico de massas e, como tal, não exclusivo do passado. O fascismo é uma paixão que necessita de uma fagulha como uma pandemia ou como uma crise social. Para enfrentar o drama do momento, alguns líderes e movimentos inventam um passado idealizado como algo único (tudo era melhor quando) e usam o ressentimento do “zé-ninguém” para combater a angústia das ideias plurais e cheias de matizes. Para manter a unidade, apela-se à ideia de Pátria como suprema unidade. Como diz o autor: “O fascismo é universal. É um dialeto que fala à alma humana” (p. 35).”
Leandro Karnal, O Estado de SP
