Há décadas, cientistas e pesquisadores sociais vêm alertando que o extremismo político só cresce. Hoje, o @guardian pinçou frases impensáveis de Orbán.

“Nós, húngaros, não somos mestiços e não queremos nos tornar mestiços”. + “Os estados onde europeus e não europeus se misturam não são mais nações.”

Venham comigo:

Se essas frases não revelam xenofobia, então os conceitos de xenos + fobia (aversão ao diferente / forasteiro) à luz de pensadores como Isaiah Berlin, Hannah Arendt ou Bertrand Russell não servem para nada. Orbán, além de radical, revela ser bastante ignorante.

Orbán revela ignorância sobre biologia, porque em rigor, todos os indivíduos da espécie homo sapiens são mestiços, sendo no caso dos europeus inclusive um bem sucedido casamento com o homo neandertal em alto percentual da população com genoma do velho continente. Mas ainda fica pior.

Não feliz em passar vergonha pelo radicalismo político e ignorância sobre biologia, Orbán decidiu passar recibo da própria burrice histórica e social.

Primeiro, demonstra desconhecer o conceito sócio político de nação, que não está atrelada à necessidade de homogeneidade étnica, racial, de cor de pele, religiosa ou mesmo de preferência política.

Nação, é antes de tudo, a existência de um grupo social que comunga interesses existenciais e partilha respeito a anseios que os permitam ter uma identidade nacional. Há quem defenda que uma nação não carece nem de território…

Para piorar, Orbán ignora que os estados nacionais são criações recentíssimas, com não mais que 350 anos, não podendo jamais estarem associados com as supostas etnias, raças ou identidades genéticas que o líder húngaro deseja acoplar ao conceito de Estado.

Misturar construtos políticos com 03 séculos de existência (Estados) com mamíferos (Sapiens) com ao menos 2000 séculos (200.000 anos) é uma burrice histórica completa, típica do POPULISMO contemporâneo.

E para fechar com chave de ouro, Orbán revela desconhecer o próprio povo húngaro, que como todo europeu do leste, é uma mistura inseparável de germânicos, eslavos, balcânicos, latinos (romanos), otomanos (turcos) e até de nórdicos.

O Tribunal de Justiça da UE já condenou a Hungria, multou o país por conta de seu evidente desacoplamento principiológico com os preceitos democráticos da União Europeia, mas a guerra entre Ucrânia e Rússia está consumindo energia demais dos líderes europeus para tratar o assunto com a urgência que merece.

As frases do premiê húngaro, porém, não deixam mais dúvidas de que a xenofobia no mundo é crescente e este tema não deve ficar adstrito aos círculos acadêmicos.