Jovem congolês espancado até a morte; cidadão portador de esquizofrenia morto em camburão convertido em câmara de gás; fã de político que prega a virilidade invade festa de estranho que celebrava aniversário temático de candidato rival e o assassina; anestesista que estuprava grávidas sob seus cuidados; deputado celebra o aniversário com sua esposa e bebê com bolo de aniversário enfeitado com arma de fogo.

O que há em comum nestes eventos?

São todos, cada um à sua maneira, eventos que constituem e simbolizam uma sociedade que extrai do sexo masculino as suas piores qualidades ao invés das suas melhores.

Alguns seguidores me pediram para definir MASCULINIDADE TÓXICA: ok, longe de mim ter a capacidade para tal, e o ideal – pelo lugar de fala – seria inclusive termos uma definição cunhada por uma mulher, ou mulheres ou gays, bis ou transgêneros.

Mas vamos lá com as minhas limitações, de um homem branco, hétero, meia idade e classe média, isto é, uma posição de privilégio e sem a visão integral do fenômeno social em questão.

Definiria masculinidade tóxica como um construto social que institui um ambiente onde as características biológicas do sexo masculino são utilizadas de forma nociva à sociedade.

Exemplo: agressividade não canalizada (ou negada) e a força bruta não canalizada (ou negada).

Ambos os sexos ostentam características que podem ser bem ou mal utilizadas, em prol ou em detrimento do grupo social. No caso do sexo masculino, sociedades Misóginas ou machistas, em geral, constituem terreno fértil para que comportamentos de reificação do corpo feminino sejam naturalizados.

Outra ocorrência inerente é a tentativa do sexo masculino em individualizar os homens brancos e bem sucedidos e generalizar as mulheres, as minorias sexuais e outros grupos raciais, religiosos etc.

Assim, quando surge um comportamento social atribuível a este grupo específico de homens, o “mérito” ou a “culpa” é do indivíduo, mas quando se trata dos demais, opera-se uma visão coletivista.

Este fenômeno tem sido amplamente tratado pelas ciências sociais e um dos pensadores que mais têm falado dele especificamente na política é o filósofo basco Daniel Innenarity.

Ele aborda com maestria o fenômeno até mesmo pela forma como a mídia noticia a rotina parlamentar com diferenças visíveis quando se trata de um homem ou de uma mulher no poder. Sendo mulher, ocorre ênfase no A de “DeputadA” Fulana. Primeiro vem o sexo dela e só depois o indivíduo.

Com os homens brancos, isso raramente ocorre. Não se realça o sexo e o deputado é tratado sempre como um indivíduo. Suas qualidades não pertencem a nenhum grupo e somente a ele próprio. Um típico sintoma de uma sociedade patriarcal.