Na foto, Marcelo Rebelo, presidente de centro-direita, em Portugal

Bolsonaro cancelou ontem o almoço com Marcelo Rebelo, o presidente de Portugal. Como a imprensa portuguesa repercutiu? Simples: atribuindo tal cancelamento ao comportamento errático do autoritário presidente brasileiro. Mas Lisboa deixa uma lição sobre como lidar com isso.

Qual é? Não dar importância ao genocida, conferir a ele e seu movimento populista a irrelevância que eles merecem (e se merecem). Vale recordar que Bolsonaro decidiu cancelar o almoço ao ficar sabendo que Rebelo fora convidado para encontrar os ex-presidentes Temer e Lula…

Em uma embaixada Lusitana.

Marcelo Rebelo encontrará possivelmente também o ex-presidente FHC, ou seja, faz parte da prática política democrática encontrar ex- presidentes e isso é comum no mundo democrático e civilizado, algo distante das práticas de Bolsonaro.

Além disso, Bolsonaro havia esboçado a intenção em encontrar Rebelo na Bienal do Livro em São Paulo, justamente no ano do centenário de nascimento do escritor português José Saramago e na edição que homenageia justamente Portugal… Mas o populista brasileiro parece ter desistido…

Afinal… As chances de ser coberto de vaias em um ambiente acadêmico, científico e literário são enormes. O que Bolsonaro realmente fez foi fugir do contraste que a visita de Rebelo a Lula faria a dele e escapar de ser vaiado na companhia do presidente português.

Como a imprensa lusa repercutiu o evento? Com enorme serenidade. Professores como Costa Pinto (com quem tive o prazer em ter aulas) e Seixas Costa recordaram ao Jornal Expresso que Bolsonaro é um animal político imprevisível, personalista, populista e polemizador.

E justamente por isso, a reação serena da diplomacia portuguesa e do próprio presidente Rebelo vieram a calhar. O presidente luso até brincou ao lembrar que substituiu o almoço com Bolsonaro por um refrescante banho de mar em Copacabana e frisou que foi o convidado ao almoço…

E não de quem partiu o convite. A imprensa lusa alude que talvez parte da imprensa e oposição no Brasil devessem seguir essa mesma reação serena aos destemperos de Bolsonaro, porque se Rebelo mordesse a isca e se lançasse em hostilidades, estaria aceitando a pauta de bizarrices típicas de Bolsonaro, que em 2019 deixou uma comitiva de Macron esperando por horas, para só depois cancelar o evento e divulgar um vídeo em que aparecia cortando o cabelo como forma de os humilhar.

Segundo a os politólogos portugueses o melhor a ser feito com extremistas como Bolsonaro é deixá-los falando sós, e assim, não os normalizar. Essa posição da imprensa daqui de Portugal se assemelha muito a um conceito que tenho apresentado na academia, nos meus seminários na Universidade de Coimbra, que chamo do dilema da FALSA SIMETRIA.

A tentação em dar espaço idêntico (aparentemente simétrico) tanto para informações e notícias normais de fontes legítimas como para falsários, Negacionistas, charlatães e extremistas. Quando o debate público assim o permite, ele acaba por legitimar o ilegitimável.