O Negacionismo não acarreta apenas consequências biossociais: a democracia também é ferida. Como fenômeno derivado da pós-verdade, o Negacionismo cria e recria uma realidade paralela, imune à razão e à ciência. A democracia corre risco, porque depende de uma realidade compartilhada que esteja minimamente conectada com fatos objetivamente aferíveis.

É fácil se observar a gravidade do processo que está em curso: na política tradicional ocorre o embate entre verdade e mentira, ou seja, a mentira é proferida ainda referenciando a verdade. Há uma única realidade, e a mentira não a nega. Na pós-verdade há um dano real ao tecido social e espaço tempo político, porque a divergência não se dá se um dado fato ocorreu ou não dentro desta realidade compartilhada, mas sim, começa-se já por contestar a própria realidade.

Se não há acordo nem mesmo sobre a realidade mínima a ser compartilhada, a discussão em torno de verdade e mentira perde todo o sentido e é completamente esvaziada. Ocorre o que o filósofo basco Daniel Innenarity chama de política e lógica para perplexos.

Um exemplo perfeito desta lógica é o de Donald Trump ter passado mais de 10 anos dizendo para centenas de milhões de pessoas em suas redes sociais que tinha provas de Barack Obama não nascera nos EUA, e em 2016, timidamente admitir em uma entrevista que sabia que Obama nasceu em solo norte-americano.

O descompromisso com a realidade é total, o desalinho entre a lógica de provas, evidências, fatos, verdade ou mentira é absoluto.

Se em terra de cego o caolho é rei, na política da pós-verdade, o bufão leva o butim.

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