Dia 18/01/22, o fotógrafo suíço René Robert caminhava pelas ruas de Paris durante a madrugada para refletir em uma noite de insônia.

Inadvertidamente, tropeça, cai, desmaia e … Morre horas depois porque segundo testemunhas, “todos pensaram não passar de um pedinte”.

Apertem o botão forward: exatos 04 meses depois, dia 18/05/22, mas não em Paris e sim no outono de São Paulo.

Isaías Faria, 66 anos, morador de rua, dá entrada em um abrigo, convulsiona e morre. De frio. Hipotermia em uma noite em que enfrentou sensações térmicas abaixo de 00 graus. Desta vez, ao contrário de René, Isaías morreu perante colegas de rua, onde todos sabiam que era mesmo um pedinte.

Entre os dois eventos apenas 4 meses, o oceano Atlântico e situações econômicas completamente diferentes, mas ambos morreram pelo mesmo motivo: a sociedade pós-moderna não se importa com moradores de rua, frio, fome etc.

Pessoas como o Papa Francisco, Padre Júlio Lancelotti ou até o saudoso Betinho são tratadas como comunistas e mesmo se pregares parte das ideias simplesmente de Jesus Cristo, corres o risco de ser chamado de “vermelho”.

Em um dos estudos que fiz sobre a erosão das democracias mundo afora junto à Universidade de Coimbra, coletei dados sociais de Coreia do Sul, Brasil e Portugal e analisei a profusão de obras de arte distópicas que têm chegado ao cinema, literatura e streaming. Nunca ocorreu uma torrente como agora. O resultado da pesquisa pode ser conferido no artigo
“DISTOPIAS ATUAIS AO CINEMA E STREAMING: MERO
ENTRETENIMENTO OU METÁFORA SOCIAL VÁLIDA PARA
COMPREENDER O BRASIL E PORTUGAL CONTEMPORÂNEOS?”, Publicado na revista Parajás, link ao final do post.

No final do artigo recordo que na aposta de Round 6, o BILIONÁRIO dono do jogo perde, pois o morador de rua é salvo de ser congelado por transeuntes e uma vitória. Rousseau venceu Hobbes nos instantes finais da série.

Na vida real, seja em Paris ou em São Paulo, a REALIDADE foi mais cruel que a FICÇÃO. 2 a 1 para Hobbes. A realidade foi mais distópica que a ficção.

O ROUND 6 “perdeu” de nós.

LINK: http://revista.institutoparajas.org/index.php/parajas/article/view/86/100