O Brasil completou ontem 134 anos desde a abolição da escravidão, atravessando um momento onde até mesmo obviedades sociais são contestadas por parte da população e de lideranças políticas.

Primeiro, sem dourar a pílula, vamos recordar que a abolição apenas reconheceu o direito à liberdade que todos os seres humanos têm e era negado aos escravizados de origem africana. Mas de resto, a abolição esteve mais para o verbo ABANDONAR que o LIBERTAR.

Declarada somente após 388 anos de sequestros, torturas, estupros, sevicias e genocídio transatlântico (estimado em até 4 milhões de mortos só em travessias marítimas), a abolição foi um tímido aceno à liberdade de ir e vir, mas todas as demais liberdades inerentes a um ser humano não foram contempladas.

E não são até hoje.

Entre a abolição e a Constituição de 1988 há um fio condutor de golpes, autoritarismo e momentos oscilantes em que ora exploração da população brasileira parda e afrodescendente se deu como se esta fosse mais matéria-prima do capitalismo nacional, e ora fosse mão de obra desprovida de cidadania.

Ainda hoje, em 2022, o brasileiro afrodescendente é tratado como um subcidadão, ou como eu e o Prof. @josemcarrico conceituamos em CIDADELAS & MUROS, um “acidadão” (a da negativa em grego, ou seja, sem cidadania).

Só há uma saída para este fosso social em que lançamos os afrodescendentes: ações afirmativas e a estipulação de cotas para ALUNOS & PROFESSORES nas Instituições de Ensino, porque a ascensão social sustentável e democrática vem da capacitação educacional.

Este ano o Congresso debaterá os dez anos das cotas e a sociedade brasileira deve manifestar o seu irrestrito anseio em tornar menos desigual o meio social que ainda castiga metade ou mais da população pela sua simples cor da pele.

Com a desigualdade racial de oportunidades que o Brasil tem, jamais será uma verdadeira democracia.

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