Algumas semanas atrás estive em Sevilha e visitei uma arena de touradas, obviamente sem o espetáculo, que repugno profundamente.

Minha visita se deu a uma tentativa em investigar epistemologicamente a defesa que os fãs de touradas fazem do evento: A TRADIÇÃO.

Brasil, Colômbia, Argentina, Paraguai, México, EUA, França, Portugal e Espanha são os países onde ainda existem touradas ou eventos semelhantes.

Afinal, existe alguma justificativa válida para um evento que fere gravemente animais só por diversão?

Salvo os argumentos turísticos, “culturais”, financeiros etc, o mais brandido pelos defensores das touradas é o da TRADIÇÃO.

Tradição vem de traditio (latim), que significa passar adiante ou entregar. Trata-se, portanto, etimologicamente, de uma prática NEUTRA. Você transmite algo, não importando se o algo é bom ou ruim. A replicação desta transmissão ao longo dos tempos cria a TRADIÇÃO, como conceito hoje compreendido.

Políticos conservadores enxergam alto valor na defesa da “tradição”, como um campo de força que impediria a sociedade em se degenerar ou perder valores essenciais.

Povos originários como os ianomâmis dependem de um modus vivendi absolutamente alicerçado nas suas tradições. O problema desta defesa da tradição surge quando ela é utilizada para defender qualquer prática ou mesmo invocar tradição onde as raízes não são tão profundas assim, ou até mesmo quando a tradição não garante a existência de ninguém.

As touradas, mesmo que tenham longínquas relações com a tauromaquia da Grécia Antiga, não são eventos tão tradicionais como seus defensores alegam. Na verdade, são bem recentes, tendo sido institucionalizadas como hoje se as pratica do séc. XIX em diante.

Mesmo na Espanha, país que ainda mais contém seus defensores, cerca de 7/10 da população é contra os eventos, e até na Andaluzia, região onde a tauromaquia é muito forte, mais da metade da população prefere banir o “esporte”.

Golpear até a morte um animal por puro divertimento não se trata de “tradição”, mas sim, de se passar adiante uma prática que não se coaduna com o bem-estar animal. Estima-se em 20 mil ao ano os touros mortos em touradas.