O ser humano tem como sua maior bússola existencial a necessidade de narrativas. Quando fatos complexos explodem na sua cara, para se situar rapidamente, o sapiens tenta significar os eventos, resumi-los, e ao final, no melhor estilo zoroastra, definir o lado do bem e o lado do mal.

As ideologias políticas, surgidas durante o iluminismo (sécs. XVII e XVIII) apenas deram vitamina a essa necessidade milenar da humanidade. E com a guerra agora em curso não seria diferente. Partidários míopes da direita e esquerda se arvoraram em catalogar rapidamente o país invasor e o invadido. A Rússia se tornou comunista para alguns e a Ucrânia fascista para outros.

Estão ambos errados.

Putin nunca foi comunista: ao revés, é um nacionalista, conservador, ortodoxo (comunistas são ateus) e pertence um partido resolutamente de direita, tendo o hoje frágil partido comunista (ele ainda existe) na Rússia como seu adversário. O que essas pessoas não entendem é que a Rússia sempre foi imperialista independente do ismo (Monarquismo, Comunismo ou Capitalismo).

E a Ucrânia decididamente não é uma nação fascista. Do mesmo modo que existem pequenas forças comunistas na Rússia, existem pequenas franjas nazi-fascistas na Ucrânia, especialmente o movimento Pravyi Sektor e seu batalhão Azov, (re)surgidos na revolta chamada Euromaden em 2013.

Decididamente são extremistas, usam suástica e outros símbolos Nazis (e foram inspiração para Sara Winter no Brasil) e evocam a memória da segunda guerra quando um pelotão de Ucranianos se juntou ao exército nazista para ajudar na invasão da Rússia.

Essa ferida entre russos e ucranianos jamais cicatrizou, mas não justifica a invasão russa, porque o que deve ser combatido é o Pravyi Sektor e não os civis que estão sendo mortos às centenas e logo aos milhares.

Tudo está clareando: Putin premeditou essa invasão por anos, criando reservas econômicas e enxugando os gastos públicos, a ponto da dívida pública não passar de 1/5 do PIB (uma das menores do mundo) e as reservas atingirem quase 1/2 do PIB (uma das maiores).

Conclusão: as sanções econômicas não farão nem cócegas em Putin.