“Deita a palha ao burro e come tu também!” – Hugo Castilho, pintor português de Setúbal

Topei com esta frase em Lisboa no atelier do pintor Hugo Castilho junto ao Centro Cultural de Belém, e ela reflete exatamente como o humor português é único.

Mais que isso: a frase exprime de forma cristalina a atitude lusa diante a vida. Este espírito em geral…. Cauteloso, desconfiado, mais cético que esperançoso (mas não niilista), humilde, vivido (como grupo histórico), um povo que provou tanto o néctar de vitórias improváveis como o amargo de derrotas definitivas, mas acima de tudo, um cidadão muito, mas muito mesmo… Bem humorado.

Esse chiste que costuma fazer com terceiros, o português o faz com maestria, porque antes domina o gracejo consigo mesmo. Neste aspecto, há algo que lembra o humor do judeu consigo mesmo (as piadas judaicas consigo mesmos estão entre as melhores).

O português domina a arte de rir de si, e o faz com brilho tanto em primeira pessoa do singular EU (como cidadão, alma ou indivíduo), como em primeira pessoa do plural NÓS (como nacional, grupo étnico ou sócio-histórico).

Deitar a palha ao burro significa reconhecer que há quem saiba MENOS, mas a sugestão de comer a palha oferecida ao burro constitui dois lembretes fundamentais:

– devemos continuar atentos e estudando para progredir o aprendizado;

– devemos lembrar que mesmo assim, ainda que tomando as cautelas, cometeremos burrices.

Nem os mais brilhantes escapam em ter seus dias de relinchos longos. Nestes dias, que tenhamos humildade e comamos a palha com nossos burritos.

@museuberardo