Edmund Burke, filósofo escocês conservador, dizia no século XVIII que a sociedade é constituída de um pacto entre os vivos, mortos e não nascidos.

Sigmund Freud, psicanalista que atuava em Viena e assistiu de camarote o surgimento das ideologias totalitárias, ensinava que a memória coletiva possui diversos paralelos e dinâmicas da memória individual, podendo inclusive padecer das mesmas imaturidades ao lidar com a assimilação de eventos desagradáveis.

Mais recentemente, Paul Ricoeur, filósofo francês morto em 2005, pesquisou a construção, revisão e edição da História pelas gerações posteriores ao Holocausto, e apontou como lembranças do horror podem dar ensejo ao nascimento de processos mentais negacionistas.

Nós, gerações de meia e da melhor idade, temos o dever de manter acesa a lembrança do Holocausto, e observarmos que em geral, as vítimas sobreviventes do morticínio, pedem justamente para não serem esquecidas.

Também pudera: deixar que a poeira do tempo soterre essas memórias faria com que as mortes e sofrimentos das vítimas e heróis da luta contra o Holocausto tivessem sido em vão.

Não devemos ter medo de ensinar aos nossos filhos, enteados, netos, alunos ou sobrinhos o que aconteceu. As crianças devem aprender o que houve e são perfeitamente capazes de assimilar o que se sucedeu. E acima de tudo, devem ser capazes de entender que os seres humanos (inclusive elas) são capazes de cometer atrocidades.

É preciso conscientização disso, porque o processo de deterioração da memória coletiva a partir do distanciamento temporal (lá se vão 80 anos) do evento, do falecimento das vítimas e cidadãos que assistiram os fatos, aliado à atomização social e à predisposição da sociedade atual em viver somente o instante eterno, tendem a relativizar o horror, e assim, como ensinava a filósofa Hannah Arendt, banalizá-lo.

O check list deste processo está inteiramente preenchido como a última semana revelou. Pesquisa de antropólogos brasileiros revelou ao menos 500 unidades nazistas atuando no país.

Drones registraram diversas casas com piscinas ornadas com azulejos em formato de suásticas. O mesmo se observou com jardins. Camisetas com acrônimos com dizeres elogios ao nazismo já desfilam em corpos de jovens. Os comentários de Monark e do jornalista da Jovem Pan apenas reforçam a lista, demonstrando que o processo de esquecimento, relativização e edição da memória já começou.

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