Comecemos do princípio. Etimologicamente, o que é CONSCIÊNCIA?

– conscientia, de consciens, particípio presente de conscire = estar ciente;

Tomar consciência, em muitas ocasiões, é descobrir sermos algo que já éramos: apenas não sabíamos.

O feriado da consciência negra vem, portanto, a calhar ao nosso país, que se veste, se alimenta, dança, canta, reza e vive como afrodescendente, mas parece (e não sabe mesmo) não saber disso.

Como bem expressa Silvio Almeida em sua obra que nasceu clássica, “Racismo Estrutural”, o brasileiro branco – não raras vezes – se julga europeu, como se a cor da sua pele ou seu sobrenome o tornasse mais próximo do velho continente do que da pátria em que nasceu e ganha seu pão.

E não raras vezes novamente, esse brasileiro só descobre não ser europeu estando com europeus. Sim, a ligação da língua, da pátria, da gastronomia, da música, do folclore e tradições é muito mais forte que cor de pele e sobrenomes.

Nosso país legalizou um regime brutal (escravidão) por 388 anos, e por mais 143 desde entao então, naturaliza desigualdade racial brutal com pouco ou nenhum constrangimento.

Como se ignorar esse fato já não fosse desgraçadamente algo injusto, agora, parte do país decide tentar reescrever a história da escravidão. Coloca-se a culpa nos escravizados, desloca-se o cerne dos debates e trata-se as cotas como se não fossem ainda reparação assaz insuficiente.

Alguns clamam: que culpa temos se a escravidão ocorreu mais de cem anos atrás? Ninguém hoje já era nascido, oras. Mas quem está falando de culpa? Por que focar em culpa, quando as nações mais civilizadas do mundo tem focado seus ordenamentos jurídicos e políticas públicas em responsabilidade?

Talvez não tenhamos culpa pelo que foi feito aos escravizados, mas certamente como diria Karl Jaspers, temos RESPONSABILIDADE pelas consequências que até hoje os descendentes deste holocausto atlântico têm de lidar.

Ps. Estimativas modestas falam em até 04 milhões de mortos só nas travessias do Atlântico.