Night Shyamalan é um diretor amaldiçoado: sua estreia (sexto sentido) foi tão unanimemente ovacionada, que a maioria do público não notou que este é um cineasta provocador. Para o bem ou para o mal, suas obras são sempre mais do que a sinopse sugere.

Este filme é uma pedrada existencial. Talvez premido pelas críticas que andou recebendo, Shyamalan optou por responder bastante ao final da película, o que ao meu gosto pessoal, era irrelevante.

Sem spoilers: tudo que importa neste filme está do começo até o início do ato final.

Em resumo, duas famílias em crise vão passar férias em uma praia paradisíaca no México até que observam duas coisas mórbidas: não conseguem deixar o local (não darei spoilers dos motivos etc) e o tempo passa mais rápido no lugar.

Especula-se na obra, que 30 minutos significariam de 01 a 02 anos aos turistas, o que significa que 01 hora daria algo como 04 anos e 10 horas, portanto, seriam 40 anos. Idosos morreriam rapidamente, pessoas de meia idade se tornariam idosas em poucas horas, crianças se tornariam adolescentes e estes adultos em um dia.

A obra dá a entender que não se trata de um fenômeno cosmológico isolado, mas sim algo que se combinava ao relógio biológico de átomos com (ou sem vida), resultando em um processo de perecimento ultra acelerado.

Se a premissa parece complexa e transbordante de ficção, as questões que realmente importam ao filme são as mais elementares: o diretor criou uma situação única onde os protagonistas poderiam (com o espectador) avaliar e reavaliar suas vidas em um único dia. O que poderia ser um filme de terror simplista se torna uma obra perturbadora de filosofia.

Assim, há beleza em ver um idoso (que seria ainda jovem) se debruçar sobre coisas que o irritaram de manhã e agora em perspectiva não tinham relevância nenhuma. A proximidade da morte inevitável e sabendo ser improvável poder fugir do algoz (o tempo), trouxe sabedoria até as personagens que agiam de forma superficial. Toneladas de vaidade são evaporadas em poucas horas, o que em uma vida cronologicamente normal demandaria décadas. Lições que aprendemos (não impunemente) em anos, tiveram que ser assimiladas em minutos. Se pensamos que o tempo é cruel, é porque esquecemos que ele poderia ser ainda mais.

Por mais que nos esforcemos para sermos melhores no dia à dia, somente a perspectiva frontal da morte consegue realmente nos deixar em paz com a vida.