Em 2014, Luciano Floridi, filósofo e historiador de Oxford, lançou obra seminal (e ainda sem versão brasileira, atenção editoras!): The Fourth Revolution: How the Infosphere is Reshaping Human Reality (em tradução livre: a quarta revolução: como a infoesfera está remodelando a realidade). No referido texto, Floridi aponta como a infoesfera está engolindo a realidade, a ponto desta começar a se submeter àquela.

Creio sinceramente que não temos dedicado atenção suficiente ao tema. Talvez, com o anúncio do Facebook de que passa a ser chamar Meta (também por conta dos escândalos associados ao seu nome), e a apresentação do projeto do Metaverso isso se altere.

Mas o que será o Metaverso? Basicamente, um ambiente de internet IMERSIVA, onde os usuários lá interagirão em ambiente 03 D e com avatares próprios e provável uso de ferramentas (como óculos) que permitirão essa experiência de integração ao ambiente virtual.

O assunto tem impactos relevantes na saúde e nos distúrbios de personalidade que são inerentes ao uso das redes. Se Floridi aponta à realidade coletiva, os antropólogos Tim Ingold e Bruno Latour têm alertado ao processo de secção do indivíduo, que chamam de esquartejamento ontológico.

Como o espaço aqui é curto, vamos ficar com conceitos mais simples como as personas e papéis de Jung. Em uma vida, somos pais, mães, filhos, profissionais, maridos, esposas, amantes, amigos, pacientes, eleitores, líderes, agressores e vítimas. Não há vida plenamente unidimensional: sempre somos algo mais. O que as redes sociais fizeram foi criar um plus, pois agora temos personas virtuais, ou para usar uma expressão do pensador italiano Massimo Felice, temos cibercidadania.

Mas as redes são um território, de fato? São uma realidade paralela mas válida, enfim?

Conseguirá a personalidade pré-histórica do homo sapiens suportar o fardo (ou dádiva?) de se partilhar em tantos “EUS” e personas para cada rede social que usará sem – em dado momento – ultrapassar o ponto de inflexão e se fundir ao ambiente de rede?

A comparação com a indústria do tabaco é exagerada?

As gerações futuras olharão para trás e dirão que usamos as redes desenfreadamente sem nos atentarmos aos danos à saúde mental (especialmente das crianças)?

É possível que para além da adoção da educação midiática, tenhamos que em dado momento instituir algum tipo de treinamento para melhor navegar e transitar entre os dois mundos (infoesfera e esfera real), especialmente porque ambos universos estão cada vez mais conectados e vividos como um só.