Joe Shuster e Jerry Siegel, dois estudantes de origem étnica de minorias (judeus) nos EUA, criaram o Superman nos anos 30 do séc. XX como forma de expiar todo bullying e humilhações que passaram na infância e adolescência.

Superman, em resumo, é Kal-El, filho de Lara & Jor-El, cidadãos de Krypton, um planeta distante que se perdeu em desastres bélicos e ambientais, fruto de políticas extremistas.

A sexualidade de casa EL jamais foi um cânone da HQ, assim como a cor de pele das personagens ou nacionalidade. Superman já foi negro, russo e até comunista.

O que é de fato canônico é a bondade genuína, tanto da sua família biológica (morta no perecimento de Krypton), como da família que o adotou (nos EUA, os Kent), bondade e tolerância que Clark absorveu para si.

Ainda assim, a DC – como sempre – foi muito mais conservadora que a Marvel, pois não tornou Kal-El / Clark Kent gay ou bissexual,mas sim, seu filho.

Foi o suficiente para o jogador de vôlei Mauricio Souza exprimir em suas redes sociais:

“Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”

Peço que o leitor respire fundo e me acompanhe em uma jornada de empatia não pelas vítimas do preconceito claro (assunto muito bem debatido pelos pensadores públicos ontem), mas pelo ator do preconceito (e vítima do próprio), o jogador.

Analisemos sua última frase. “…vai ver onde vamos parar”.

Que emoção primordial essa frase revela?

Medo.

Medo de quê?

Que lugar é esse que a sociedade pode parar que assusta tanto Maurício e outros milhões?

É o medo de ser minoria.

Medo dele (heteronormativo) se tornar uma minoria dentro do espaço público e privado, ou seja, de homossexuais ou bissexuais se tornarem a maioria.

Ora, mas se sou hetero e sinto atração pelo sexo oposto, qual seria o problema da maioria preferir se relacionar com o mesmo sexo ou com ambos?

Mas por que, afinal, ser minoria deixa Mauricio (e milhões) tão inseguros?

Simples: o medo de passar a ser minoria advém do fato de que as minorias ainda são ignoradas e agredidas em nossa sociedade.

Isso significa, amigos e leitores, que temos que pensar fundamentalmente em como tratamos nossas minorias, porque se um ser humano tem tanto medo assim de ser parte de uma minoria ( a ponto de ofender publicamente milhões de semelhantes), é sinal de que a nossa sociedade guarda às minorias um tratamento demasiado degradante.

Tratar isonomicamente todos é questão que urge na nossa sociedade e combater diuturnamente nossos preconceitos, dos superficiais aos mais arraigados.

Ninguém deixa de ser super por orientação / inclinação sexual.