Após a formalização de diversas denúncias partindo de dentro da cadeia de comando do Facebook, o tema tem transtornado a sociedade dita ocidental: afinal, a nossa democracia pode ser corroída por inteligência artificial?

Primeiro, vamos esclarecer: os algoritmos não são novidade. Eis e etimologia do termo: vem de al-huwarizmi, nome de importante matematico do séc. IX.

O ser humano não criou os algoritmos, mas meramente os identificou na natureza e passou a criar os seus. As instruções da molécula de DNA não deixam de ter grande similitude com algoritmos e há quem defenda que são formas algorítimicas.

Uma receita de cozinha – sem sombra de dúvida – é um algoritmo. Os algoritmos, portanto, não são criação das redes sociais, mas é fato que estas sofisticaram os algoritmos a ponto destes passarem despercebidos e criarem a noção de livre árbitrio onde não há.

Por definição simples, um algoritmo é a elaboração de instruções para resolver problemas solúveis de forma não ambígua. Parece inofensivo? Em se tratando de inteligência artificial, não é.

Esqueçamos as redes sociais: que tal pensar em carros autônomos?

Suponha que você está sendo conduzido por um e repentinamente surgem 03 vítimas de atropelamento sem chance de salvamento de todas. A I.A terá que selecionar quem sacrificar. Quem será escolhida? A mais velha? A mais jovem? A com fenótipo de imigrante? Não parece justo que o operador / fabricante do veículo torne transparente como programou o veículo?

Voltamos ao Facebook: o que e quem escolheu ( e como !) O que passa na sua Timeline? Quais dados estão sendo coletados? Como esses dados são processados e convertidos em algoritmos que lhe sugerirão desde notícias até um pacote de férias ou um match para alguns drinks?

Pensando que está prestigiando a liberdade (econômica?), o chamado Ocidente está permitindo que uma empresa sozinha consuma, manipule e venda dados de quase 04 bilhões de pessoas, ou seja, mais da metade da população mundial.

É curioso que a defesa da liberdade pode estar se consubstanciando exatamente em uma certa escravidão nas mãos de um único Senhorio.

Podemos indagar: Mas a Coca-Cola não tem o seu segredo industrial (algoritmo químico) jamais revelado?

Sim. Alguns padrões algorítimicos podem ser protegidos (e devem), mas você toma Coca-Cola (evite tomar, mas se gosta muito, tome de vez em quando) sabendo basicamente o que toma (açúcar para burro). O mesmo não está ocorrendo nas redes sociais.

Primeiro, elas atomizam ainda mais uma sociedade que já vinha se atomizando e definem por você muita coisa que você acha que está definindo paras as redes sociais.

Então nos deparamos com as várias lógicas que podem alicerçar o uso algorítimico, afinal, eles não operam da mesma maneira e certamente existem alguns que geram maior retorno financeiro que outros. Surge então a métrica chamada de lógica dos “clickbaits”, ou seja, você decide rentabilizar o seu negócio nas redes sociais na base de ganhar mais quando é simplesmente mais visto e solicitado para mais interações.

É uma lógica fria e amoral, mas ela se lastreia em uma característica extremamente humana: o ser humano sente atração por quase tudo que é inusual, que evoca a exceção e que é incomum.

No frigir dos ovos, por trás do nome pomposo e pós-moderno (clickbaits) ou medieval (algoritmo) se encontra a pré-histórica natureza humana de parar para assistir acidentes onde seus semelhantes estejam esvanecendo pouco a pouco.

O curtir e compartilhar é apenas a versão beta do apreço que temos como sapiens por correntes de bizarrices, dor, sofrimento, ódio ou tudo que estapeie as nossas faces sufocadas de tédio.

O que fazer com o Facebook? Não temos a resposta. Devemos utilizar a legislação anti-truste (da maior parte dos países ocidentais ) e retalhar a empresa? Isso não seria novidade no EUA que já evitou trustes antes. Algo deveria ser feito porque a aquisição conjunta de Facebook / Whatsapp / Instagram tornam o conglomerado de Mark Zuckerberg algo inédito em acúmulo informacional?

Mas falamos de mais do que acúmulo de receitas financeiras e metadados, falamos de transparência: afinal, é correto usarmos apps e sistemas para nos comunicarmos sem sabermos as regras destes?

Em que ponto deixamos de ser consumidor e nos tornamos mercadoria sem sabermos?

Vejam, não sou refratário às redes sociais tampouco ao uso da I.A. E muito menos contra o uso de metadados. Em princípio, são tecnologias maravilhosas e que podem ajudar bilhões de pessoas, mas parece necessário que os usuários tenham acesso aos marcadores da programação para terem certeza que o sistema de I.A está servindo à sociedade não o inverso.