Karl Jarspers foi um audaz filósofo e psiquiatra alemão. Sua obra mais célebre se chama a A QUESTÃO DA CULPA e é abordada em meu novo livro que será publicado em julho deste ano.

No ensaio, Jaspers reflete sobre qual seria a culpa de cada cidadão alemão pela eclosão do nazismo e suas consequências.

A indagação é pertinente, porque Jaspers observou ao final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que repentinamente ninguém mais declarava ter apoiado o regime nazista. Mais que isso: ninguém conhecia os campos de concentração, a expropriação dos bens das famílias judias etc.

Altivos, milhões de alemães afirmavam não ter culpa nenhuma pelo holocausto. Jaspers se surpreendeu. Como seria possível a um regime existir por quase 15 anos com tamanha desaprovação?

A conclusão de Jaspers é que as pessoas individualmente tentam se desvencilhar da culpa coletiva, e da culpa que no ensaio o pensador chamou de CULPA POLÍTICA.

Acelerem a máquina do tempo uns 100 anos, talvez 120. O que dirão de nós, brasileiros, em 2040, 2050? Será que poderemos alegar inocência política? Não sabíamos que o nosso líder político sabotou a vacinação do seu povo propositalmente? Ou que, fazendo roleta russa com a vida de milhões, colocou marionetes em cargos chave do Ministério da Saúde? Ou que claramente tentou imunizar em massa seus cidadãos os contaminando? Ou que deu carta branca ao ministro do meio ambiente para que o próprio Ibama encobrisse a remessa de madeira clandestina aos EUA após pedir bilhões de dólares para estancar o desmatamento ilegal?

As manifestações de ontem correram um risco: aglomeração. Entendo e defendo quem foi tomando os cuidados, mas agentes virais não terão essa benevolência. Certamente pessoas podem ter se infectado etc. Por outro lado, o que fazer se é necessário preencher o espaço público para deixar clara a discordância com um governo que reitera práticas necropolíticas e se porta como detentor da maioria?

Era uma decisão difícil. No frigir dos ovos, embora o risco tenha nascido da natureza patogênica do vírus, o que fez matar tanto em solo pátrio foram as decisões políticas de nosso presidente. O que dirão de nós?