A pressão evolutiva é um conceito pouco conhecido mas fácil de compreender. Quando organismos (micro & macro) competem em condições medianas, suas diferentes condições podem não conferir vantagens decisivas na luta pela sobrevivência.

Isso muda em condições de pressão evolutiva. Como?

Em um ambiente hostil, alguns seres vivos terão vantagens biológicas em detrimento de seus concorrentes e por isso estarão mais aptos a sobreviver. Sobrevivendo, transmitirão essas vantagens genéticas e comportamentais aos seus descendentes. E seus rivais? Tenderão a ser erradicados na esteira da seleção natural.

Foi assim em Manaus, quando um ambiente de alta taxa de imunidade (quase de rebanho) entre a população, tornou o ambiente árido ao coronavírus, quando ele passou a ter enorme dificuldade em encontrar novas vítimas para infectar. A pressão evolutiva surgida desta situação, permitiu que uma cepa mais apta (P1) pelas mutações que sofreu, vencesse as demais e se tornasse hegemônica.

Com o caos em Manaus, tivemos que enviar doentes para outros locais e assim espalhamos a P1 pelo país, que se aproveitou para infectar novas vítimas em ambientes bons a ela, ou seja, com baixa taxa de imunidade. Esse foi um dos motivos da segunda onda ter sido tão devastadora (além da falta de cuidados da população), soltamos uma cepa forjada em um ambiente hostil para amadurecer em um ambiente propício.

Como a vacinação de idosos está em curso e como a P1 conta com upgrades (mutações) importantes, ele tem ferramentas que a ajudam se conectar melhor nas células da vítima (suas espículas são mais hábeis e versáteis), criando um novo foco de vítima: adultos de 30 a 50 anos.

Isso explica o exército de órfãos que criamos de janeiro até agora.

Mas, Alexandre, onde isso vai parar?

A questão, leitor, é essa. Não sabemos se vai parar enquanto não vacinarmos.

O biólogo Fernando Reinach vem alertando a um risco que estamos alimentando com mamadeira microbiótica há mais de um ano: AS CRIANÇAS.

Não seria a primeira epidemia a matar crianças em série, mas a humanidade contemporânea está preparada para ver caixões pequenos descerem em série às valas e serem cobertos por torrões de terra?

Conforme a vacinação avança e dá cobertura aos idosos e adultos, e sabendo que ela avança em ritmo de conta-gotas, já temos como prever: se um adulto como eu com 42 anos, dificilmente será vacinado em 2021, o que se dizer das crianças?

Não é só uma questão de imunizá-las para voltarem às aulas com segurança, é a certeza de que elas correrão mais risco que todos, por serem as últimas da fila, quando o ambiente estará sob fortíssima (e talvez inédita) pressão evolutiva: com alto percentual de adultos imunizados e não adoecendo, qualquer mutação em uma das cepas que lhe permita infectar crianças criará uma vantagem assombrosa e assim, o vírus terá chance de se replicar ainda em milhões de crianças.

Mas, Alexandre, o que a ciência sugere que façamos agora?

Temos à mão algumas medidas:

I – testar rapidamente o maior número possível de vacinas já usadas em adultos em crianças;

II – tentar acelerar a vacinação;

II – não abolir algum grau do isolamento social (não necessariamente lockdown) até que as crianças sejam vacinadas;

Um abraço e até a próxima!