Vocês notaram?

O Estadão sempre foi um jornal mais adernado ao que chamamos em ciência política de direita, a Folha, sempre oposicionista, fosse o governo que fosse e a Globo, invariavelmente situacionista até que ficasse insustentável. Cada veículo – é claro – nunca foi monolítico, possuindo articulistas e colunistas de diversos espectros políticos. A Folha tem Pondé e Coutinho, claramente conservadores e o Estadão conta com Karnal, muito mais à esquerda que os colegas.
De todo modo, as linhas editoriais destes três veículos da imprensa tradicional sempre foram muito díspares, não tendo semelhanças notáveis.

O atual governo, contudo, com seu viés tecnopopulista, verve autoritária etc, conseguiu criar uma voz unívoca e uníssona na imprensa brasileira: Globo, CNN, Band, Folha ou Estadão, todos estão incrivelmente parecidos na cobertura política do atual governo federal. Não é coincidência: o jornalismo nasce do direito à informação, à expressão, à comunicação e da necessidade de uma sociedade com governo representativo ter acesso a dados e fatos aferíveis. O jornalismo tal como conhecemos nasceu da Declaração dos Direitos dos Homens, fruto da Revolução Francesa em 1789.

Pinço dois artigos fundamentais:

Art. 10.º Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei;
Art. 11.º A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei;

Quando o Governo Federal afirma que não poderia ter evitado o caos em Manaus / AM porque o STF o impediu, ele falta com a verdade para além de sua omissão; quando o mesmo governo prescreve medicação conhecida como kit covid mesmo ciente da sua falta de funcionamento medicinal (e até cria riscos cardíacos), ou quando gasta milhões de reais a estocando de laboratórios de apoiadores do Presidente, ele falta com a verdade e comete crimes de responsabilidade.

E por fim, quando o Ministério da Saúde omite dados e os números de mortos, obrigando a imprensa a criar um Consórcio para apurar se afinal pessoas estão morrendo, ele está cometendo crime de responsabilidade. Sim, a imprensa tem falhas, defeitos e vícios, mas não fosse a imprensa brasileira, talvez não soubéssemos nem quantas famílias estão pranteando seus mortos e muito menos por qual motivo.