Segundo Ortega Y Gasset, nos anos 30, o século XX é o ápice da rebelião das massas. Conforme Elias Canetti, nos anos 60, o século XX arregimenta a tirania dos números: a qualidade dos argumentos perde valor quando você pode invocar a força. E Arendt (nos anos 50) arremata que a revolta das massas se dá pela implantação de um totalitarismo massivo, onde a figura do líder personifica o indivíduo diluído na massa. Um vale por todos e todos valem por um.

Seja no bolchevismo de Lenin, no Franquismo espanhol, no Nazismo de Hitler, no Fascismo de Mussolini ou no Stalinismo, não foi o líder que escolheu a massa, mas a massa que pinçou um dos seus para lhe materializar. O fato destes líderes serem todos pessoas fracassadas, desajustadas e intelectualmente limitadas não é coincidência, mas uma projeção coletiva junguiana em um indivíduo.

No século XXI não é diferente. Nossos líderes, antes de serem a causa, são as consequências do que são as massas que os elegeram.

Como se trata de um movimento galvanizado pelo ressentimento, é preciso desacreditar todas as formas oficiais de conhecimento: ciência, universidade, academia, intelectuais, imprensa etc.

Alija-se qualquer fonte de conhecimento que seja considerada representante do antigo regime e se coloca em seu lugar o mais variado zoológico de charlatões.

A vulgaridade e o absurdo de suas teses, narrativas e justificativas ostentam o apelo irresistível de serem antiestablishment.

A verdade não importa, o importante é que a informação justifica a narrativa de que o regime anterior era podre, corrupto e impossível de ser salvo.

Logo, a intelligentsia do regime antigo deve naufragar com ele. A ciência que desmente os absurdos também não presta, está carcomida pela corrupção dos ideais não revolucionários da revolta deste cardume raivoso.

A verdade passa a ser mero ponto de vista a serviço de ideologias massivas e totalizantes (“queimem os livros!”).