Nos tempos primevos, a autoridade era religiosa: o xamã, o pajé e os anciãos detinham a verdade.

A verdade oficial então passou a ser questionada por homens da ciência, militares e comerciantes. Surge a imprensa e a verdade passou a ser o que a imprensa dizia ser verdade: o quarto poder, por assim se dizer. Surge a internet e com ela a maior capilarização da informação já vista.

Antes, para dominar, o agente deveria deter, reter e manusear a informação.

Conhecimento é poder, teria dito Bacon (não há certeza de que ele tenha dito), mas agora tudo mudou: na era da pós-verdade, o poder mais avassalador não está em deter a informação mas sim, em embaralhá-la.

A desinformação se tornou poder.

Um líder com pretensões tirânicas não precisa mais impor sua versão: basta criar e ajudar a difundir tantas versões que desautorizem e degradem a verdade, que a verdade se torna uma placa de vidro espatifada em cacos no chão. Toda informação que o desagradar será chamada de fakenews, e as mentiras disparadas por si e aliados, terão aos seus seguidores status de verdade suprema, proferida pelo líder viril e predestinado. Como escapar da ratoeira que armamos contra a nós mesmos? Uma coisa é certa: não será renunciando ao direito à informação e ao jornalismo profissional.

O grande dilema do jornalismo contemporâneo é simples de diagnosticar, porém, árduo de se superar: como qualquer atividade, o jornalismo é pautado pela dinâmica da competição x cooperação. Ocorre, que a atividade jornalística demanda tempo, exame de fontes, correções, apurações, maturação e aí sim, divulgação. A verdade precisa raramente é palpável e exprimível à primeira vista: como tudo que é bom, ela precisa de tempo.

Como competir com outros veículos de comunicação e especialmente com os veículos modernos (que não se atém às boas práticas) e ao mesmo tempo seguir os ditames da profissão jornalística?

Se prioriza a rapidez, o jornalista opta pela fluidez e com ela, a imprecisão. Se prioriza a maturação, opta pela solidez e com ela, maior vagar. O jornalismo oficial nos termos modernos está em uma difícil cilada, uma escolha de Sofia entre ser RÁPIDO & SUPERFICIAL ou mais LENTO & PRECISO. A solução passa antes pela educação do público, que precisa compreender que a verdade precisa de tempo, estudo, pesquisa e não devemos ser ávidos consumidores de notícias, mas sim, cidadãos conscientes em busca de informação.

Nem toda notícia é informação e muita informação jamais se tornará notícia, em um mundo frenético que atropela a verdade na busca de likes.